sexta-feira, 13 de maio de 2011

Para Viver Um Grande Amor, de Vinícius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Allie e Noah, em cena do filme O Diário de Uma Paixão (The Notebook)

domingo, 2 de maio de 2010

Quimera possivelmente real

A humanidade necessita sonhar, apesar de muitas vezes o sonho parecer uma utopia, ele poderá tornar-se real. Sonhos iluminam a vida, dão sentido à nossa jornada e enriquecem a nossa alma. Sonhar faz um bem tão grande, que ficar sem imaginar que aquilo que tanto queremos não acontecerá, pode nos frustrar e, a partir de então, fazer mal a nós mesmos, leve ou gravemente.
O sonho, segundo Sigmund Freud, é a tentativa de satisfazer um desejo; e sonhar é exatamente isso: queremos muito um amor para a vida inteira (ou que seja duradouro), queremos viajar, trocar de carro e etc. O sonho é o pré-ato de ter o que desejamos, é a "pré-compra" de tudo o que almejamos. Sem sonhar, sem este pequeno, mas importante pensamento, muitas vezes involuntário, não adquirimos o que tanto temos ou, futuramente, teríamos. Sonhar é o primeiro passo desta caminhada sem fim.
No momento em que dizemos a palavra sonho, aos ouvidos de muita gente soa como "ah, não conseguirás", ou até "sonhos são para fracos". Correção: quem não sonha é fraco. Os sonhos nos fazem querer mais, querer lutar pelo o que acreditamos; é crer que só porque, na primeira tentativa, recebemos um não, que nas próximas não receberemos um sim. É o sonho que nos faz ser quem somos, que nos faz ser bem-humorados, é ele que nos faz feliz.
Todos os tipos de sonhos e sonhadores, os saudáveis, são aceitáveis: não custa nada acreditar que os humanos sofrem mutações ao longo do tempo, que aquela pessoa em especial mudará de atitude; não custa nada acreditar que daqui a alguns anos o mundo torna-se-á um lugar de melhor convívio. Sonhar não custa nada, a não ser que esqueçamos a vida real, aquela que passa na frente de nossos olhos. Sonhar abre nossos horizontes, mas se estivermos com os dois pés fixados firmementes ao solo.
Clarice Lispector foi muito feliz em sua citação: "O que alarga a vida de uma pessoa são os sonhos impossíveis". Lispector não diz que não poderemos realizá-los, mas sim que devemos sonhar alto, muito alto, e acreditar nele, porque são estes pensamentos de poder atual e/ou futuro que engrandecerão nossa alma, nosso coração, nossa vontade de viver. Tudo é possível se feito com vontade, amor e dedicação, até mesmo os sonhos mais improváveis.